domingo, 1 de setembro de 2013

O Jeep Militar no Brasil - Quarta e última parte



    
Mas a história do Jeep militar brasileiro não acabaria no último ano de sua produção. Um novo, porém derradeiro capítulo surgiu quando por necessidade de mantê-los em operação, já que não haviam substitutos, em 1986 a empresa paulista Bernardini S.A. é contratada para “repotenciar” os velhos Willys/Ford.

 A principal alteração ocorreu na motorização: a substituição dos BF-161 6 cilindros fabricados até meados de 1975 por um GM 2,5 litros 4 cilindros 151, com 82 hp a 4.400 rpm e torque de 17,1 kgmf a 2.500 rpm, do veículo Opala. Os poucos CJ3B remanescentes também sofreram a troca dos Hurricane pelos GM 151. Os Jeeps repotenciados pela empresa paulista foram denominados CJ5B/12, “B” de Bernardini e “12” de ½ ton. Isso explica porque muitos Jeeps descarregados em leilões apareciam com essa motorização e plaquetas de identificação como modelo 1986, ou 1992 por exemplo. Os “Bernardini” recebiam reforços nas longarinas para receberem o novo motor e foi necessária uma flange na para acoplar a caixa seca GM e a transmissão Willys/Ford e nova furação no assoalho. Outras modificações foram feitas no sistema elétrico: limpador elétrico do parabrisas, caixa de fusíveis sob o painel, nova chave de seta/luz alta/baixa com led indicador no painel, novo comando de afogador e adoção de pisca-alerta, novo chicote elétrico, instalação de sistemas de luzes militares com chave NATO (padrão OTAN), nova aferição nos instrumentos como velocímetro e marcadores de combustível e temperatura do motor, luz de mapa e suporte para o fuzil FAL no painel. 


 

       
                                         
Interior de Jeep Bernardini.Notem a adoção da barra anticapotamento.

       Alguns ainda recebiam novo volante e novo espelho retrovisor interno, bem como nova caixa de porta-luvas. Externamente era visível a adoção de barra anticapotamento (santo antônio) , adoção de refletores amarelos nas laterais dos paralamas dianteiros, lanternas black-out dianteiras (torpedinhos) sobre os paralamas, e atrás,lanternas civis em conjunto com as militares protegidos por uma grade, tomada de força elétrica com 7 vias para reboque  e novo escapamento.
          Novas plaquetas de identificação foram fixadas no painel próximo ao porta-luvas e no cofre do motor no lado esquerdo.
         O Jeep ganhou maior autonomia com novo tanque de combustível e economia de combustível com o novo motor, bem como nova capacidade de carga, fazendo com que o Arsenal de Guerra de São Paulo e a Bernardini S.A. dessem uma sobrevida a essas viaturas. 

      Existem ainda alguns Jeep “Bernardini” bem como alguns “originais” inclusive o motor, prestando serviços no Exército. A totalidade desses “originais” no entanto, se deve a modelos com motor OHC Ford 4 cilindros. Após a extinção da Bernardini S.A. os Jeep remanescentes continuaram a ser modificados nos Parques Regionais de Manutenção do Exército, onde atualizavam-se alguns itens conforme a necessidade, como sistema de direção, bancos, freios, possibilitando o uso até os dias de hoje, convivendo com Land Rovers, Engesas, JPX e o Agrale Marruá.

     Acima, Jeep Ford, mas não repotenciado pela Bernardini, ainda na ativa em quartel no Rio Grande do Sul.


     Hoje, os modelos militarizados de fábrica dos veículos Willys/Ford estão sendo preservados Brasil afora, sendo que possuem um valor histórico muito grande e de maneira geral apresentam também maior valor de mercado, pois os custos e dificuldades de uma restauração criteriosa é maior devido às características das peças e acessórios, de uso mais restrito.
 

Acima, Jeeps Ford repotenciados em Pirassununga, SP.
 
 Jeep Bernardini em leilão.

domingo, 11 de agosto de 2013

O Jeep Militar no Brasil - Terceira Parte



         Ironicamente, somente nos últimos anos de sua produção o Jeep militar brasileiro diferenciou-se realmente daqueles de uso civil, quando a Ford, em 1981, passou a atender às novas necessidades das Forças Armadas e lançou um modelo equipado com sistema elétrico 24 volts com adoção de novo alternador. Porém a ignição e faróis permaneceram 12 volts. Este Jeep possuía ainda duas baterias 12V, uma fixada no suporte original e outra em um novo fixado no lado esquerdo em posição similar.
                                   

             Mas o que mais diferencia estes modelos num primeiro olhar é o painel, bem diferente dos anteriores.
     Modelo 1981 (sem pedaleira suspensa)
Modelo 1983


         Possui instrumentação completa, com voltímetro, amperímetro, marcador de temperatura e combustível, luz de advertência de baixa pressão do óleo e luz indicadora de farol alto, tudo agrupado em um pequeno painel desmontável parafusado no lado esquerdo da coluna de direção. O novo velocímetro, por isso, perde os marcadores de temperatura e combustível e as luzes indicadoras de pressão do óleo e falhas no sistema elétrico, porém é adotado um botão para zerar o hodômetro, posicionado no lado esquerdo do mesmo. Ganhou ainda uma chave geral de segurança do sistema elétrico posicionada bem à esquerda do painel com os 04 relógios. Próximo ao botão do afogador é posicionada uma pequena tecla para troca de luz civil/militar nas lanternas de freio e direcionais. No lado direito do velocímetro encontra-se o botão dos faróis.
 
         O Jeep dessas versões perde seu banco duplo traseiro e passa a utilizar em seu lugar um individual atrás do banco do carona e sobre a caixa de roda do paralamas esquerdo traseiro é posicionado um suporte para rádio-comunicação, que podia ser o RY 20, ERC 616 ou os PRC 77 e PRC 10 americanos. Podia ser equipado portanto com duas antenas laterais, uma em cada lado, de modelo maior que as tradicionais e por isso necessitava de uma chapa de metal como reforço nas furações dos suportes . Também recebe como todos os modelos Jeep, reforços estruturais no chassi.

Em 1982/83 ganha ainda pedaleira suspensa (como os civis), filtro de ar maior, para uso pesado, com entrada de ar mais comprida e quadrada similar às picapes F-100, cilindro-mestre de freio grande com sistema duplo e ignição eletrônica.

Estas unidades, produzidas de 1981 e até os últimos modelos 1983, seriam os denominados U-50, considerados por muitos como o verdadeiro Jeep militar brasileiro e não uma adaptação de fábrica para uso militar, já que dessa vez as diferenças eram substanciais. Porém esta denominação U-50 ainda é controversa pois muitos acreditam erroneamente ser todos os modelos da era Ford, e há aqueles que acreditam ainda se tratar de modelos exclusivos para exportação, já que em 1983 muitas unidades com sistema 24 volts foram exportadas para Chile e Bolívia até mesmo como “modelos 1984”. De fato, embora já popularizado, o Jeep Ford U-50 não era denominação exclusiva desse tipo de viatura militar e sim de todo os Jeep Ford do final dos anos 70 e início dos anos 80 que eram exportados, tanto civis quanto militares (que eram denominados versão U-50 Campagna em mercados de língua espanhola).
                             Jeeps Ford 1981 exportados para o Chile.


        Ainda referente à nomenclaturas, cabe ressaltar que no Brasil, o Jeep era tecnicamente denominado “5224” Jeep Universal, visto que a Willys Overland do Brasil e depois a Ford nunca utilizavam a denominação CJ-5 em plaquetas. Apenas a Ford nos anos 70 chegou a usar em propagandas. Quanto aos modelos militares, anteriores aos prováveis U-50, a nomenclatura  era mantida como 5224, mas também adotou-se outras conforme a destinação da viatura , sendo a M520 a mais comum, também encontramos a M119 e a mais recente descoberta do também estudioso de Jeeps, o amigo Alexandre Leite, a M510. Porém, o real significado, ainda permanece como uma incógnita.


         As Forças Armadas também utilizaram com pouquíssimas modificações, os modelos 6224 e 6225 (4 portas), modelos alongados conhecidos como “Bernardão”. O primeiro para substituir os M170 americanos e servir principalmente como ambulância e o segundo para carro de comando. 

         Fato curioso também é que os militares receberam diversos modelos civis de 5224, sem nenhuma modificação. Um amigo lembrou ter visto várias vezes na Agromotor a chegada de jipes do EB e da Aeronáutica para buscar peças de reposição e manutenção e para sua surpresa eram jipes com capota civil e estepe na lateral, estribo nas laterais, bancos civis, idem sistema de iluminação, apenas recebiam a pintura verde oliva. Porém, nesse caso, para receberem a placa preta como modelos militarizados, as unidades que porventura forem restauradas devem apresentar documentação que comprove que um dia pertenceram às Forças Armadas, pois suas características são de um modelo civil. Pelo menos esse seria o procedimento para clubes de veículos antigos que queiram preservar sua credibilidade.
Talvez por algum imprevisto nas entregas dos pedidos, ou casos especiais,  a fábrica remetia lotes de modelos não militarizados, o que certamente não era recusado pelos militares, visto que os que conhecem a realidade histórica de nossas Forças Armadas sabem das dificuldades de manter-se uma viatura operacional por longos anos, e receber uma 0km sempre é um fato bem-vindo.
Muitos desses modelos civis também eram adaptados para tornarem-se “canhoneiros”.

            Abaixo, modelo 5224 utilizado por contingentes brasileiros em Missões de Paz da ONU no Canal de Suez.


 
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