sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Jeep militar no Brasil - Segunda Parte

    Seguindo a história do Jeep militar no Brasil, abordaremos o que podemos chamar de segunda fase, onde unidades fabricadas no país passaram a ser amplamente utilizadas. No final da década de 1950 os militares brasileiros importaram algumas unidades do M38A1 e M38A1C (canhoneiro, visto na foto abaixo). 


    Ainda no final da década de 1950, em 1957, começa a ser fabricado no Brasil o novo modelo CJ-5 (no nosso país era chamado apenas de Jeep Willys Universal). Porém já haviam algumas unidades apresentadas e importadas ainda em 1955. Com o índice de nacionalização de mais de 80% em 1959, o Jeep CJ-5 brasileiro, agora com motor BF-161 6 cilindros e carroceria nacional, também passou a ser adotado pelos militares. No início, quase idêntico ao modelo civil, já que até a capota normal permanecia, supriu a demanda por um Jeep mais moderno, ainda inferior a um M38A1 americano, mas com custos de reparação bem menores.

    A carroceria especialmente feita para uso militar, diferenciando-se da civil e a adoção de equipamentos militares padrão ainda na fábrica ocorreram somente a partir de 1961, juntamente com o novo design trapezoidal dos paralamas traseiros do CJ-5 brasileiro e com a produção do modelo também militarizado “de fábrica” do Pick-up Jeep, que ficou conhecido como F-85.




     O Jeep passou a ter um modelo exclusivo para as Forças Armadas, cujas principais diferenças encontravam-se na carroceria e na adoção de equipamentos e acessórios para uso bélico, já que mecanicamente praticamente não havia diferenças entre o de uso civil e o militarizado.Atendendo a especificações técnicas, o CJ-5 transformou-se, ganhando farda e apetrechos que o tornariam ainda mais adequado a operações bélicas em qualquer terreno e sob as mais diversas condições, como convém a uma viatura militar. A carroceria foi modificada na parte chamada de “caixão”: não adotava a tampa traseira removível e rebatível. No lugar havia uma chapa soldada e reforçada para abrigar o suporte de estepe e camburão na parte externa e suportes para pá e machado militares na parte interna. Por isso mesmo o banco traseiro, quando utilizado(pois era facilmente removido), era do tipo que dobrava e rebatia para dar acesso às ferramentas.

Já o Jeep “canhoneiro”, ¼ ton CSR (canhão sem recuo) de 106 mm tinha a parte traseira aberta, sem tampa mesmo, para facilitar o municiamento do poderoso canhão. Esse modelo veio para substituir os já raros M38A1C importados, e eram ainda mais diferenciados visualmente, com a adoção de parabrisas repartido, suportes para camburão, pá e machado nas laterais dos paralamas  e estepe na lateral dianteira direita. No painel havia um suporte para apoiar o canhão quando o mesmo estava “de descanso”. Havia ainda diferenças na suspensão traseira, que era reforçada com pequenas molas helicoidais, já que o maior peso e o tranco do disparo fazia com que o Jeep desse um pulo. 




Já nos modelos VTNE (Viatura de Transp Não Especializado), para abrigar a capota militar a carroceria ganhou também presilhas nas  laterais e traseira e dois suportes traseiros para apoiar o cajado que sustentava a lona, quando a capota não era utilizada. Este cajado em “V” quando armado, era dobrável, e apoiava-se em dois suportes fixados do lado de fora dos paralamas traseiros. A capota aliás, diferenciava-se substancialmente do modelo civil, era feita de material mais reforçado e antichama, possuía 05 janelas , sendo as 04 laterais removíveis e enroláveis, tornando-o um veículo semi-conversível. Para fechamento das portas, foi soldado um suporte nas laterais, que também era utilizado para fixar as cintas (straps) de segurança quando as portas da capota eram removidas. Serviam também para fixar as pontas do cajado quando o mesmo estava recolhido. Refletores (olhos-de-gato) foram fixados nas laterais traseiras de ambos os lados e um na parte central do suporte de estepe.
E é justamente na parte posterior que é possível visualizar-se as maiores diferenças, já que os modelos militarizados possuem estepe na traseira, com suporte para o camburão (galão) de combustível ou água, além de parachoques em meia-lua militares, com gancho “G” para engate de carreta militar ou canhão antitanque e anilhas de fixação soldadas na base, que assim como as dianteiras serviam para reboque ou fixação em aeronaves, pontes flutuantes, embarcações e vagões ferroviários. Alguns modelos podiam ser equipados ainda com guinchos mecânicos Ramsey ou os nacionais Biselli, ambos com capacidade para até 3,5 toneladas. 




     Outros eram equipados com metralhadoras .30 ou .50 fixadas sobre suportes na parte central do assoalho traseiro, e ainda havia modelos de rádio-comunicação equipados com aparelhos de transmissão e recepção sobre a parte interna dos paralamas traseiros, possuíam o suporte de antena fixado na lateral traseira direita como padrão, percebido em todas as fotos de época onde aparecem estes modelos. Os primeiros modelos, na década de 60 ainda utilizavam as lanternas civis como padrão, embora muitas unidades faziam suas adaptações. No final dos anos 60 , presume-se, até início da década de 80, saíam de fábrica somente com lanternas militares na traseira. Também nessa época adotou-se a tomada para reboque na traseira e mais um refletor posicionado logo acima da mesma. Por volta de 1981 passou a ser equipado com o conjunto de lanternas civis e militares. Na parte dianteira dos Jeep militarizados, a adoção do farol de aproximação, sempre sobre o paralamas esquerdo, denunciava a utilização militar. A adoção de anilhas sobre os parachoques também era um diferencial. Alguns modelos ainda podiam ser equipados com sirenes ROTAM sobre o paralama direito, especialmente as unidades PE (Polícia do Exército).




    A foto acima documenta um esquadrão de reconhecimento em operação nos anos 60.  Reparem que na foto, dividida, a parte à direita mostra o 5224 que vinha atrás do MB à esquerda, e comprova o uso de lanternas civis na traseira nessa época.

Internamente, os bancos dianteiros eram individuais para motorista e passageiro, revestidos de napa verde em tom esmeralda como padrão mas alguns poucos em lona verde oliva. O painel apresentava os mesmos instrumentos do modelo CJ-5 normal, com exceção do botão de luzes nos modelos que passaram a adotar as lanternas militares na traseira e pequena tecla sob o painel para acionar o farol de aproximação e mais tarde as luzes de Pare civil/militar. Nesse ponto, o painel só diferenciou-se mesmo dos modelos civis a partir de 1980 quando adotou o sistema elétrico 24 volts.. Sempre apresentava também a chave de ignição no painel, diferente de alguns modelos civis que vieram com trava de direção. As plaquetas militares com instruções e recomendações também diferenciavam este aspecto do Jeep militarizado. 







O quadro do parabrisas a partir de 1964 era sempre do modelo com vidro rebatível. Os pneus adotados eram os 6.00 x 16 militares. Praticamente tudo era pintado na cor verde-oliva e nos anos 80, verde-floresta. Chassis, eixos, rodas, parachoques, carroceria, suportes. Só escapavam itens que não eram em metal e volante, motor e seus agregados. 

   Acima, início dos anos 80. Abaixo, meados dos anos 60.
 Abaixo, como eram transportados os Jeep em vagões ferroviários.







 

 
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