sábado, 24 de agosto de 2019

O JEEP E AS PLACAS DE PONTE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


  
     As "placas de ponte", ou bridge plates, podem parecer de utilização muito comum na época da Segunda Guerra Mundial, em viaturas do tipo Jeep 1/4 tonelada. De fato, em uma breve pesquisa podemos encontrar muitas fotos desse tipo de veículo militar equipado com a placa circular com um número inscrito nela, fixada na grade dianteira. Também parece ser cada vez mais comum colecionadores e entusiastas de viaturas militares antigas abaixo de 2 1/2 toneladas equiparem-nas com essas placas. Ou seja, pendurar "coisas" que muitas vezes não equipavam originalmente as viaturas.
      Mas será mesmo que eram de uso tão comum e numeroso, principalmente em Jipes?
    Bem, para tentarmos responder essa questão, vamos voltar ao contexto da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente no teatro europeu de operações, em 1943/44.
      Nessa época, com a entrada massiva de tropas e equipamentos aliados a partir da Sicília-Itália, em 1943, e tropas concentradas no Reino Unido para o Dia D, em 6 de junho de 1944 na costa da Normandia, França, o front ocidental do velho continente foi tomado por veículos militares de todos os tipos. De início, as estradas já existentes, incluindo-se as pontes rodoviárias em seu trajeto (muitas dessas pontes, tão antigas que remontam da época medieval e estão de pé até hoje) foram largamente utilizadas. Conforme a necessidade do avanço e características do terreno, posteriormente novas pontes do tipo militar (pontões e tipo Bailey por exemplo) e outras mais improvisadas, foram sendo construídas/instaladas. Afinal, o avanço não podia parar e o inimigo também "gostava" de destruir pontes, por motivos óbvios.
      Acontece que no caos de uma guerra, veículos dos mais variados pesos começaram a danificar as pontes, algumas centenárias, o que além de irritar os habitantes locais (principalmente os ingleses) também prejudicava o próprio deslocamento posterior de suprimentos para as frentes de batalha. Os maiores vilões nesse caso, eram os blindados e os caminhões com peso combinado.
     A partir disso, em treinamentos e deslocamentos, principalmente à noite, eram postados guardas em cada extremidade de pontes por onde cruzariam comboios. Eles eram encarregados de não deixar nenhum "bisonho" em um blindado Sherman ou caminhão CCKW com reboque, por exemplo, tentar cruzar e danificar a ponte. Para isso, placas foram instaladas em alguns veículos e muitas vezes na própria ponte, para indicação da classificação de peso. Assim, ou as viaturas eram barradas, quando verificava-se a indicação de peso que ultrapassasse a capacidade da ponte, ou o condutor/chefe de viatura ou alguma alma mais atenta, desse conta que o veículo, com seu peso total, pudesse danificar aquele ponto do trajeto.
    Assim, surgiram as "placas de ponte" instaladas em veículos militares com o intuito principal de "denunciar" o peso total da viatura ou combinado (no caso de estar com um reboque por exemplo).
     Também eram utilizadas para organizar o próprio comboio. Assim, qualquer pessoa que manuseie uma ponte temporária pode dizer se o veículo é adequado para atravessar a ponte sem danificá-la, por estar acima do peso para a capacidade da mesma. Importante dizer que ao contrário do que se pode imaginar, as indicações nessas placas vão além do peso e das pontes, como será discutido mais adiante.
     Num exemplo prático:  um soldado (geralmente um MP - Military Police) fica de guarda em ponte que pode suportar apenas 4 toneladas de peso. Acima disso e ela entrará em colapso (ainda hoje pontes na Europa têm placas sinalizando sua capacidade).
    Então vem um caminhão com uma placa na frente que diz "8" na pequena placa redonda (na Segunda Guerra Mundial eles usaram até tampas de lata de café para isso). Aquele guarda então ordena a parada e diz "Não, você está atravessando minha ponte" e faz o motorista se dirigir para outro lugar, como um riacho ou outra ponte.

 Ponte Nibelung , em Worm, Alemanha.

     Em 1939, na Europa, todas as pontes foram classificadas com peso máximo de um veículo em toneladas. Existiam as seguintes classes: 5, 9, 12, 18 ou 24. Deve-se observar que as classes de pontes se aplicam não somente a pontes fixas, mas também as do tipo pontão. Embora os veículos naquela época fossem classificados em múltiplos de 1 tonelada, não tratava-se simplesmente do peso em carga. A classificação levava em conta cálculos a partir de dados que incluíram capacidade de carga, tamanho de pneus, distância entre eixos, etc.
     Mesmo que facilmente encontremos imagens de época, de Jeep 1/4 ton com placas de ponte, isso não significa que elas equipavam de modo numeroso esses veículos. Isso para o período da Segunda Guerra, pois após é muito difícil veículos de menos de 2,5 toneladas ostentarem a placa, originalmente.
     Pode-se deduzir, a princípio, que as unidades avançadas necessitavam dessa sinalização naquela época. Porém, assim que as unidades de acompanhamento ou retaguarda chegavam, os engenheiros tinham reforçado ou construído pontes, suas capacidades devidamente sinalizadas e mapas de rotas evitariam enviar caminhões ou blindados de qualquer maneira.

   As fotos acima mostram um Jeeps na Itália na linha de frente. Ambas de 1944, em unidades de avanço. Notem as "bridge plates".
    Em síntese, sim, os Jeep 1/4 ton, durante a Segunda Guerra Mundial, foram equipados com "placas de ponte", embora isso não fosse tão comum ou exigência. Convenhamos que uma ponte que não suporta um Jeep, mesmo com um reboque,tem menos utilidade tática. Essa é uma questão também para Jeeps equipados com os corta-fios fixados nos pára-choques, cuja adoção não era assim tão comum quanto possa parecer. As placas fazem mais sentido em veículos maiores, mas não em jipes.
   Não podemos afirmar o mesmo, de viaturas 1/4 ton do pós-guerra (M38, M38A1, M170, M606, MUTT...) , que de acordo com documentos americanos e STAGNAG-NATO (OTAN) por exemplo, raramente utilizavam as "bridge plates". Mas isso será assunto para outro post.

    Outro detalhe é que para sinalizar a classificação de peso das viaturas, as placas metálicas fixadas não eram regra naquela guerra. Os britânicos, principalmente, mas também os norte-americanos, também pintavam no metal da carroceria ou do quadro de parabrisas. Veja o exemplo do Jeep do General Mark Clark, comandante do 5º Exército, em 1944, na Itália. Se valia para um General...

    No caso das placas fixadas, o local de instalação podia variar. Parece que a regra era onde menos atrapalhasse, mas o habitual era na grade dianteira no lado direito, ao lado do farol. Às vezes ate tapando-o. Também encontrava-se na parte superior central da grade ou ainda na parte inferior direita da mesma.



    O documento americano , de 1944, (AR-850), especificava a classificação de peso de veículos e mostrava claramente (itens 4 e 5 da seção XVII) a não utilização por viaturas 1/4 ton, sedans, motocicletas, de marcações do tipo placas de ponte. Porém, no mesmo documento é posteriormente listado (setor 13A, item 0,57) o código para o "truck 1/4 ton", ou seja, o nosso famoso Jeep.


    São especificados ainda, o diâmetro de 7 polegadas (cerca de 18 cm) para a placa, pintura em fundo amarelo e símbolos na cor preta, devendo ser visível a 50 pés (15,24 m) de distância à luz do dia.
   Em Jeep o código era o número 2 pintado. Alguns Jeep ostentavam 2/2, significando peso combinado, onde o número superior referia-se ao reboque. Também o numero 5 foi encontrado em viaturas britânicas. É consenso que inicialmente haviam padrões distintos, tipo EUA x UK, dependendo da unidade em operação, no front europeu.
Aqui vê-se Jeeps cruzando uma ponte na India. Sem bridge plates
 

Fonte e fotos:
Arquivo do autor do blog.
G503 forum
AR-850
Wikipedia
HMVF HistoricMilitaryVehicleForum

 



 

 


 
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