quarta-feira, 15 de julho de 2020

A legendária série CJ do Jeep - 75 anos de história


De fato, a data de 17 de julho de 1945 oficialmente marca o surgimento, há 75 anos, do primeiro modelo de produção seriada do Jeep civil, o CJ-2A. Portanto , ainda em plena Segunda Guerra Mundial e dividindo a linha de produção com o modelo militar MB, produzido até 20 de agosto daquele ano.

A sigla CJ , de Civilian Jeep, surgiu no protótipo CJ1, em 1944, e cerca de 22 protótipos de CJ-1A foram construídos para testes. Algum tempo depois, a Willys construiu um pequeno número de modelos de protótipos civis aprimorados, apelidados de CJ2, que também são chamados de Agrijeeps, até ser adotada definitivamente a sigla CJ-2A.

A denominação Agrijeep foi rapidamente descartada pois ,comercialmente restringia muito o nicho de mercado. Os Agrijeeps tiveram menos de 50 unidades produzidas e o maior número de série encontrado nas unidades sobreviventes até agora é o CJ-2-37.






O primeiros CJ-2A  eram muito parecidos com o modelo militar, até porque utilizavam muitas peças em conjunto, como os eixos traseiros. Basicamente houve a troca da alavanca de acionamento das marchas para a coluna de direção, adoção de faróis maiores e sinaleiras civis, porta traseira e pneu sobressalente montado na lateral, bancos mais confortáveis e suspensão mais macia!  À medida que as vendas iam subindo e com o final da produção do modelo MB, as peças foram sendo substituídas e o visual cada vez mais limpo em relação ao MB. Naquele ano, foram produzidos 1.824 CJ-2A , iniciando com o número de série 10001. Já no ano seguinte, a produção saltaria para 71554 unidades, tamanho o sucesso do modelo. O CJ-2A possuía um preço de varejo sugerido de US $ 1.090.





Os primeiros eram vendidos com apenas duas opções de cores, até o número de série 38221. Eram Pasture Green (um tom claro de verde) e Harvest Tan ( um tom claro de marrom). A opção Pasture Green vinha com rodas Amarelo Outono  (Autumn Yellow). Já a opção Harvest Tan fazia a combinação com rodas Vermelho Pôr-do-Sol (Sunset Red), que na verdade era um tom de laranja abóbora brilhante adornadas com um filete preto de 1/4 de polegada, ou aproximadamente 0,64 cm.

A partir da série 38221, já vinha com mais quatro opções de cores: Princeton Black (ou Americar Black), Normandy Blue (Azul Normandia), um tipo de azul marinho , Michigan Yellow (amarelo médio) e Harvard Red (vermelho brilhante). As rodas também apresentaram novas combinações:
Amarelo Outono com listra preta, e Vermelho Pôr-do-Sol com uma listra azul Normandia. quando a carroceria era Azul Normandia.
A carroceria Amarelo Michigan vinha com 3 cores de roda diferentes: Pasture Green com uma listra amarelo Michigan, Americar Black com uma listra Wake Marfim e Vermelho Pôr-do-sol com uma faixa Americar Black.

A cada ano novas cores e combinações foram acrescentadas. Inclusive o Olive Drab (Verde-Oliva) foi uma opção de exportação para uso militar. Sim, embora de uso civil, era um Jeep, surgido para a guerra, e com a produção de modelos militares interrompida foi a opção para outros países como a África do Sul e Suíça e mais tarde, inclusive o Brasil.

Essa sigla CJ evoluiu até o CJ-8 Scrambler e perdurou até 1985, quando foi adotada a YJ para o modelo Wrangler, nos EUA. No entanto, comercialmente a Willys adotava o nome Jeep Universal para destacar a versatilidade e uso civil de seus modelos Jeep. Certamente, o mais popular e longevo dessa série é o Jeep Universal CJ-5, tendo surgido em 1955 e perdurado até 1985. No Brasil permaneceu até 1983, pela Ford.
Apesar da certeza de um bom produto e da demanda de mercado, provavelmente nem mesmo a empresa poderia prever o tamanho sucesso e longevidade da linhagem de  Jipes CJs. Não é para menos, pois você tinha um veículo que podia ser usado no serviço da fazenda, com a possibilidade de acoplar uma série de equipamentos e que ao mesmo tempo podia ser utilizado para ir à vila mais próxima ou à missa nos finais-de-semana.

Dos três produtores de Jeeps-Ford, Willys e Bantam durante a guerra, apenas a Willys permaneceu construindo Jeeps. A Ford estava interessada, mas quando seu próprio projeto de jipe ​​foi rejeitado pelos militares, forçando a produção da versão Willys, a chance de oferecer um jipe ​​civil praticamente acabou.
Alegava  Ford, que o Jeep simplesmente não era importante o suficiente  a ponto de se preocupar. O terceiro dos construtores originais, American Bantam, nunca voltou ao mercado automobilístico após a guerra e acabou desaparecendo.

A Willys Overland oportunamente, soube aproveitar a fama do Jeep na guerra para oferecê-lo ao mercado civil. Portanto, ela tinha um excelente produto, de confiabilidade e robustez já comprovadas, que eram características essenciais para o novo uso a que o veículo seria destinado, ou seja, o uso agrícola e posteriormente, o uso como veículo de serviço também nos espaços urbanos.

Para isso, a Willys, além de destacar a versatilidade do Jeep no seu marketing, abusava do apelo sentimental do veículo herói de guerra, com slogans do tipo “Nascido para a guerra, pronto para a paz”.

Quando o nome jeep se popularizou, costumava ser digitado em letras minúsculas: jipe. A Willys percebeu a empatia e o valor econômico do nome e o registrou como uma marca comercial da Willys-Overland, em merecidas letras maiúsculas.

Após a guerra, o Jeep ​​se tornaria fundamental para o futuro da Willys-Overland. E lá eles sabiam disso. A empresa  porém não poderia sobreviver baseada em um modelo. As despesas gerais na fábrica exigiriam um nível de produção de pelo menos 54.000 Jeep Universal por ano. Era um nível que a Willys poderia atingir em alguns anos, como 1946, mas que poderia ficar aquém em outros anos.

Porém a ideia de produzir um modelo de Jipe para uso civil remonta a 1941, com o protótipo X-12. A letra X designava um veículo de teste, fabricado em novembro de 1941 e modificado em 1942.

A foto acima é do oficialmente reconhecido como o mais antigo protótipo de jeep para uso civil, o MB42 "Auburn" de 1942. Pertence a Tood Paisley e está em condições de rodagem.
Em abril de 1942 o Ministério da Agricultura norte-americano patrocinou um teste em Auburn, Alabama, para ver se o jipe podia ser usado como um trator para realizar várias tarefas ao redor da fazenda-laboratório, no complexo do Farm Machinery Tillage. O Exército forneceu um Ford GPW e a Willys Overland mandou um MB especialmente preparado, juntamente com seus 2 pilotos de testes.  Mais sobre eles você pode encontrar  em um post de agosto de 2010, aqui no blog.

Mas o que pouca gente sabe é que Jeeps foram vendidos a civis ainda em maio de 1943!  As fotos acima ilustram o que podemos chamar do primeiro lote de jipes vendidos para civis. Eram viaturas militares do Exército americano adquiridas por um comerciante de Chicago, EUA, chamado Berg. Também fizemos um post sobre isso em junho de 2010.



No Brasil, a antiga importadora e concessionária Willys, Gastal, do RJ foi a pioneira a trazer os CJ em 1947. Abaixo, interessante foto mostra a chegada de um Jeep CJ2-A novinho em 1947. Chegavam dos EUA via marítima, parcialmente desmontados em caixotes de madeira. A demanda porém, era muito maior que a oferta e se você adquirisse um teria de esperar um tempo razoável.

Se em um país já desenvolvido na época, como os EUA , a série CJ fez tanto sucesso, imagine em um país ainda emergente como o nosso, carente de qualquer tipo de veículo, ainda mais daqueles capazes de trafegar sem dificuldades em nossas então raras estradas pavimentadas ou até mesmo onde elas sequer existiam. Além disso, era pequeno, ágil, versátil e diferente.

Essa  demanda crescente despertou obviamente o interesse de atuar diretamente nesses mercados emergentes, e por isso devido primeiramente ao sucesso do Jeep, a Willys Overland veio a estabelecer um escritório de sua divisão exportadora em 1950, no Rio de Janeiro.

A partir daí, associação entre a Gastal com seus subdistribuidores  e a Willys levaram a fundação da WOB, Willys Overland do Brasil em 26 de abril de 1952, que passou a importar diretamente os modelos, agora conhecidos como CJ-3A . Mais tarde, quando Henry Kaiser adquiriu o controle da Willys em 1953 e decidiu montar uma fábrica no Brasil, o famoso “Barracão da Willys” na região de São Bernardo do Campo, SP, o modelo CJ-3B conhecido aqui também pelo apelido cara-de-cavalo por causa do capô alto, passou a ser montado aqui, com 30% de peças nacionais. Em 1955 foi apresentado o novo modelo CJ5 que passou por um acelerado processo de nacionalização até 1960 e que foi mantido em produção até 1968 pela Willys Overland do Brasil e de 1969 (quando denominava-se Ford-Willys) até março de 1983, pela Ford. No Brasil, ao todo, os modelos CJ montados ou produzidos aqui, também conhecidos como Jeep Universal, compreenderam o CJ2A, CJ3A, CJ3B, CJ-5 e CJ-6 (versão alongada) de 2 e 4 portas. Os modelos CJ-5 e CJ-6 tiveram ainda versões com tração apenas em 2 rodas.

Não é exagero afirmar, que aqui, como em outros lugares de regiões ainda pouco exploradas geograficamente e desenvolvidas economicamente,  os modelos Jeep CJ  foram protagonistas da história desses lugares, contribuindo com o desenvolvimento sócio-econômico e que até hoje marcam a memória dos saudosistas e despertam paixões e fãs.

Além disso, o conceito de 4x4 surgido com o Jeep popularizou-se ainda mais com os CJs e perdura ainda hoje a ponto do nome virar sinônimo para qualquer veículo 4x4 pequeno e ágil. Quando você guia um Jeep de verdade, você não está guiando um veículo antigo qualquer, e sim um pedaço da história, o que é bem diferente.
Acima, o primeiro. Abaixo, o último.


Um comentário:

  1. Ótima matéria sobre a versão civil do jeep Willys, com certeza esse é o site mais completo sobre a história dos jeeps, quando preciso de alguma informação eu venho aqui no jeep guerreiro!

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