Bom pessoal,
vamos lá!
O ano de 2015
está só começando e aqui no blog, após vários Willys aparecerem a pedido e para felicidade de seus donos ( e
nossa também não é?) , desta vez algo inusitado aconteceu: um valente Jeep
resolveu aparecer por conta própria e contar a sua história. E é claro que o
recebemos bem . Mas vamos ouvir (ou melhor...ler) o que ele tem a nos contar:
Meu
nome é Jeep e hoje vou contar a história da minha vida. Nasci em 1960 em São
Bernardo do Campo, SP, fui montado por mãos habilidosas que trabalhavam lá.
Todos me admiravam naquela época, saí da fábrica todo reluzente e pronto para
encarar qualquer trabalho, me chamavam de “cavalo de ferro”, o pau para toda
obra do Brasil.
Existiam
muitos iguais a mim naquela época, cruzava com vários de meus irmãos pelas
ruas, estas quase nunca pavimentadas, mas nunca foi um problema, afinal, fui
feito para isso! Com o passar dos anos viajei muito, vi lugares incríveis que
nunca imaginara um dia ver. Carreguei tudo o que fosse possível carregar, não
tenho bem na lembrança de como era meu dono, mas acredito que servi muito bem a
ele.
Minha
fama era de valente, corajoso e muito resistente, como o locutor anunciava na
televisão, “Enfrenta subidas enlameadas sem pestanejar!!!”. Esse era uma das
minha melhores qualidades, nunca deixava ninguém desamparado! Infelizmente esse
também era meu maior defeito, pois com toda essa fama eu era usado e abusado,
não tinha parada para nada, e ai a fadiga começa a mostrar minha idade, com o
tempo passo a não ser mais tão ágil e minha manutenção é mais frequente, faço
muito barulho nas juntas e a ferrugem é minha inimiga. Em certo momento meu
dono me encostou em um celeiro, para descansar, acreditava eu!
Lá
fiquei durante um bom tempo, não me recordo de nada desse período, só que era
muito escuro e chovia pelas frestas do telhado, até um certo dia que um homem
veio até mim, olhou bem, viu como eu estava, abriu meu capuz, conversou um
pouco e foi embora, só ouvi algo sobre desmontar e transformar em trator.
Fiquei com medo naquele ponto, já tinha vinte anos e já iria virar sucata, não
me conformava com isso!
No
dia seguinte o mesmo homem veio com um guincho para me levar, pensei, esse vai
ser o meu fim!! O nome dele era Rolf, um senhor bem alemão. Chegando no sítio
dele avistei seus filhos, todos jovens e interessados no que vinha lá. Ouvi
conversas de me transformar em trator para plantar mudas e colocar mourões de
cerca, tremia de medo de ser despedaçado! Mas um pouco antes de me desmontarem ouvi
os filhos dele dizendo que eu não estava tão ruim assim, que se me levassem de
volta para São Paulo eles poderiam me restaurar. Quando o Sr. Rolf concordou,
não aguentava de alegria por dentro!! Não acreditava que iria voltar a minha
forma física de quando era novo!
Fui
levado até a oficina rodando, não acreditava que estava andando outra vez, o
rapaz que me levou precisou de um banquinho de madeira para poder dirigir até
lá! Haviam buracos em meu assoalho, a ferrugem dominava minhas peças, eu
precisava de bastante atenção! Fui desmontado por completo, carroceria, chassi,
motor, tudo o que você possa imaginar.
Voltei
brilhando igual a uma moeda nova, todos gostaram de mim assim! Voltei! Meu novo
dono gostou muito do resultado, e logo seus filhos passaram a andar comigo, não
era mais usado com tanta frequência mas quando era, era pra valer! Eles me
levaram umas 3 vezes para participar de provas de Raid, pra explicar bem, era
uma “corrida” que você deveria ficar o mais próximo do tempo que os organizadores
estipulavam, a cada minuto saia um carro. Quando eu saí, recebemos a planilha,
o destino era Ilha Comprida, saindo de São Paulo.
Enfrentamos
muitas dificuldades, muito barro, uma das pás de minha hélice quebrou durante a
trilha, tiveram que cerrar a pá do outro lado para que eu conseguisse terminar
a trilha, e mesmo assim levamos mais de 16 horas para terminá-la! Foi a trilha
mais difícil que já fiz! Pensava eu!
Depois
de algum tempo um dos filhos do Sr. Rolf (Henrique) começou a cuidar mais de
mim, fez uma pintura nova, fez um novo chicote elétrico, e muito mais! Rodava
bastante, eu era famoso no trabalho dele, todos me conheciam e gostavam de mim!
Levava ele e sua namorada para todos os lugares, namoro este que resultou em
casamento e deu origem ao meu dono atual! Na lua de mel levei os dois de bom
grado até Ilhabela, no litoral paulista, atravessei a ilha até a praia de
Castelhanos, trecho bem complicado de se rodar na época, só conseguia ver que o
precipício ao meu lado não tinha fim! Tenho até foto minha lá!!
Na
volta da lua de mel fui abalroado em São Paulo, uma caminhonete mais estressada
não teve paciência de andar no meu ritmo e me deu um empurrão. Amassado que
levei comigo durante bom tempo, no canto esquerdo de minha traseira.
Quando
o primeiro filho(Andreas) nasceu eu ainda era usado como veículo principal da
família, eu tinha uma cadeirinha especial para ele, o problema foi quando veio
o outro bebê (Martin), ironicamente por causa dele eu tive que ser trocado por
um carro com mais lugares, me lembro que fui estacionado na mesma garagem que
cheguei na primeira vez, muito escura por sinal, lembro que o Sr. Rolf me tirou
de lá para passear algumas vezes, apenas em finais de semana e para ir até a
vila da cidade, buscar correspondências e apenas isso!
O
problema é que o Sr. Rolf já não tinha mais os reflexos de sempre, então era
perigoso demais para irmos rodar juntos, logo fiquei mais um tempo na garagem.
Quando os filhos do Henrique já tinham uns 3~5 anos ele fez uma geral em mim,
para dar uma volta, foi a primeira vez que o Martin me dirigiu, no colo de seu
pai só controlava meu volante, subi a rua de sua casa em primeira marcha
reduzida, bem devagarzinho para ele poder me controlar com segurança.
Depois
disso só fui sair da garagem quando o Martin tinha 7 anos, lembro que precisei
de muitos cuidados para funcionar, trocaram várias peças do motor, cabos de
velas, uma bela limpeza do carburador, e uma revisão nos freios. O problema foi
na hora de sair de lá, uma linha de gasolina vazou sobre meus cabos de vela,
resultado, comecei a pegar fogo!!! Sorte minha que o Martin conseguiu ver fogo
pela freta do meu capuz, na hora o pai dele correu pegar o extintor de incêndio
e apagar o fogo!!! Não sofri danos graves, apenas alguns cabos de vela e
mangueiras derretidas, logo me consertaram e voltei a andar como sempre!!
Pena
que não por muito tempo, logo voltei para aquela garagem, só que dessa vez fui
esquecido por mais de 13 anos! Foi um tempo difícil para mim, não via a luz do
sol, não sabia o que estava acontecendo, quando em um dia o Martin chegou para
me ajudar, desse dia em diante nunca mais parei!!! Durante um ano ele foi me
restaurando, eu rodava todos os dias sem falta, ele me levava para o trabalho,
e eu esperava ele todos os dias no estacionamento! Todos gostavam de mim, era
uma referência para todos, e nos finais de semana ele ainda me levava para
passear!
Até
o dia em que fui fazer uma trilha com um grupo de outros “fora de estrada”, o
problema é que na minha época trilhas eram diferentes, cheguei lá e o negócio
ficou feio, fui muito valente, mas chegou um ponto que não teve como, atolei
bem no pior trecho, com água até o pescoço! Me esforcei mas não deu, fiquei lá
borbulhando o escape até que outro carro me puxasse para fora, dali para frente
só consegui sair rebocado, não sei como consegui chegar em casa depois disso,
meu motor ficou falhando e funcionando mal. Cheguei em casa nos últimos
suspiros, engoli muita água e acabei bem danificado!
Não percam o próximo capítulo e vejam como acaba esta história verídica!
Crédito das Fotos: Martin Yves Wildmann