Já abordamos
nesse blog, mais precisamente em março de 2011, a história desses modelos
argentinos, produzidos pela IKA, Indústrias Kaiser Argentina e mais tarde
IKA-Renault. Por isso, o foco desse post
será os modelos militares, ou militarizados, termo mais correto nesse
caso.
No Brasil
também tivemos o nosso 5224 (Jeep Universal) militarizado para atender as
necessidades das Forças Armadas, principalmente o Exército, devido às dificuldades
e custos de manutenção inerentes à
importação de modelos específicos. No caso argentino, os motivos foram
praticamente os mesmos. Lá, o modelo padrão, principalmente a partir da década
de 1970, foi o denominado Jeep IKA-Renault M101.
Primeiramente
vamos a uma pequena introdução sobre o início da fabricação do Jeep no país
vizinho ao Brasil. O Jeep IKA na Argentina teve início no começo de 1956 (27 de
Abril) na planta de Isabel,província de Córdoba, que teve a incumbência
contratual de produzir toda a linha Kaiser, mas não podia. Por isso, um fato
curioso foi que ao abrir as portas,
simplesmente não estavam preparados para produzir literalmente todas as partes
dos veículos, e então importaram carrocerias, chassis e outros acessórios ,
simulando a fabricação. O índice de nacionalização era de apenas 40%. A partir
de 1957 efetivamente começaram a produzir todas as partes do chamado Jeep IKA
Argentino, o primeiro veículo produzido em série naquele país. O índice de
nacionalização passara a 80%.
Na foto acima percebe-se o alongamento do assoalho traseiro dos primeiros Jeep IKA, mas ainda com a parte externa igual à carroceria americana, portanto diferente da que aparece na foto abaixo, que é a versão chamada "mediana" .
Foi nessa fábrica que surgiu o primeiro motor a
gasolina fabricado na América Latina, um IKA 4 cilindros em linha, cilindrada
de 151 pol, sendo 3/4 do motor Continental 6L-226 americano. Em 02 de setembro
de 1956 saiu também daquela fábrica um Jeep pick-up. A escassez de veículos acessíveis
em fins da década de 1950 na América Latina fez com que na Argentina por
exemplo, muitos Jeep fossem encarroçados para cumprirem a dupla função de
veículo de carga e de passageiros. Houve também a produção de uma variação do
tipo mini caminhão, sobre a base do Jeep, denominada Carguero. Em fins de 1967
a empresa passou a denominar-se IKA Renault, embora exista material de 1965 com
essa denominação. A produção da linha Jeep IKA-Renault foi encerrada em 30 de
março de 1978, após 22 anos e mais de 38.000 unidades.
Os primeiros
Jeep IKA possuíam carroceria similar aos CJ-5 americanos e mais tarde ficaram
conhecidos na Argentina como modelos "curtos" ou
"importados", pois logo seriam bastante modificados pela indústria
local, surgindo os modelos "medianos". Os primeiros
"curtos" ingressaram no Exército Argentino (EA) em 1957 e 1958, sem
maiores modificações em relação aos modelos "curtos" civis, salvo a
cor da pintura. Segundo regulamento técnico militar eram denominados Jeep
Kaiser modelo 1955, e segundo dados de produção , entre 01/07/1957 e 29/04/1958
chegaram ao EA e a outras Forças Militares do país, 625 unidades. Na fábrica,
eram denominados como JA-1MA (JA de Jeep Argentino). Durante a década de 1960
as Forças Militares daquele país estiveram abastecidas também com modelos
oriundos do PAM, Programa de Assistência Militar dos EUA.
Em fins de
1957 o Jeep IKA ganhou carroceria nacional, com extensas modificações em
relação a anterior, americana. A versão argentina ficou 23 cm mais comprida,
com a soldagem de um piso extra na parte do assoalho traseiro. Mais tarde
houveram modificações nas caixas de rodas e paralamas traseiros, com perfil
semelhante aos dianteiros, rebaixos nas laterais que aumentaram a altura do
perfil e possibilitou embutir um estribo e ocultar o chassi, entre outras
coisas, como as dobras nos paralamas dianteiros. Um detalhe curioso é que
apesar do novo desenho do perfil dos paralamas traseiros, a parte interna
(caixa de rodas) era arredondada. As modificações visavam dar maior rigidez
estrutural e aumentar o espaço de carga.
Essa é a carroceria chamada de "mediana". Em relação à carroceria do
CJ-5, que tinha a chapa mais fina mas de tratamento muito melhor, a argentina
era mais robusta mas de peso superior.
Com o passar
dos anos não ocorreram novas mudanças significativas, exceto a passagem de 6
para 12 V no sistema elétrico e uma versão diesel.
O Jeep IKA é
facilmente identificável quando ao avistarmos o painel, se original, vemos que
coluna de direção invade o mesmo, necessitando de uma fenda ou buraco bem no
meio,mesmo nas carrocerias importadas de 1956 e 1957 onde nesse caso, percebe-se com mais certeza que não trata-se
de um M606A1, nem um CJ-5 americano, nem mesmo M38A1. No entanto, essa
diferença em relação aos americanos e aos Jeep brasileiros de mesma época
conferia aos modelos hermanos uma posição de dirigir um pouco melhor e o espaço
entre o banco do motorista e o volante aumentava ocasionando maior conforto.
Carroceria versão "curta" similar ao CJ-5 americano. Abaixo,painel argentino.