De fato, a data de 17 de julho de 1945 oficialmente marca o
surgimento, há 75 anos, do primeiro modelo de produção seriada do Jeep civil, o
CJ-2A. Portanto , ainda em plena Segunda Guerra Mundial e dividindo a linha de
produção com o modelo militar MB, produzido até 20 de agosto daquele ano.
A sigla CJ , de Civilian Jeep, surgiu no protótipo CJ1, em
1944, e cerca de 22 protótipos de CJ-1A foram construídos para testes. Algum
tempo depois, a Willys construiu um pequeno número de modelos de protótipos
civis aprimorados, apelidados de CJ2, que também são chamados de Agrijeeps, até
ser adotada definitivamente a sigla CJ-2A.
A denominação Agrijeep foi rapidamente descartada pois
,comercialmente restringia muito o nicho de mercado. Os Agrijeeps tiveram
menos de 50 unidades produzidas e o maior número de série encontrado nas
unidades sobreviventes até agora é o CJ-2-37.
O primeiros CJ-2A eram
muito parecidos com o modelo militar, até porque utilizavam muitas peças em
conjunto, como os eixos traseiros. Basicamente houve a troca
da alavanca de acionamento das marchas para a coluna de direção, adoção de faróis
maiores e sinaleiras civis, porta traseira e pneu sobressalente montado na
lateral, bancos mais confortáveis e suspensão mais macia! À medida que as vendas iam subindo e com o
final da produção do modelo MB, as peças foram sendo substituídas e o visual
cada vez mais limpo em relação ao MB. Naquele ano, foram produzidos 1.824 CJ-2A
, iniciando com o número de série 10001. Já no ano seguinte, a produção
saltaria para 71554 unidades, tamanho o sucesso do modelo. O CJ-2A
possuía um preço de varejo sugerido de US $ 1.090.
Os primeiros eram vendidos com apenas duas opções de cores, até o
número de série 38221. Eram Pasture Green (um tom claro de verde) e Harvest Tan
( um tom claro de marrom). A opção Pasture Green vinha com rodas Amarelo Outono (Autumn Yellow). Já a opção Harvest Tan fazia
a combinação com rodas Vermelho Pôr-do-Sol (Sunset Red), que na verdade era um
tom de laranja abóbora brilhante adornadas com um filete preto de 1/4 de
polegada, ou aproximadamente 0,64 cm.
A partir da série 38221, já vinha com mais quatro opções de cores:
Princeton Black (ou Americar Black), Normandy Blue (Azul Normandia), um tipo de
azul marinho , Michigan Yellow (amarelo médio) e Harvard Red (vermelho
brilhante). As rodas também apresentaram novas combinações:
Amarelo Outono com listra preta, e Vermelho Pôr-do-Sol com
uma listra azul Normandia. quando a carroceria era Azul Normandia.
A carroceria
Amarelo Michigan vinha com 3 cores de roda diferentes: Pasture Green com uma
listra amarelo Michigan, Americar Black com uma listra Wake Marfim e Vermelho
Pôr-do-sol com uma
faixa Americar Black.
A cada ano
novas cores e combinações foram acrescentadas. Inclusive o Olive Drab
(Verde-Oliva) foi uma opção de exportação para uso militar. Sim, embora de uso
civil, era um Jeep, surgido para a guerra, e com a produção de modelos
militares interrompida foi a opção para outros países como a África do Sul e
Suíça e mais tarde, inclusive o Brasil.
Essa sigla CJ evoluiu até o CJ-8 Scrambler e perdurou até
1985, quando foi adotada a YJ para o modelo Wrangler, nos EUA. No entanto,
comercialmente a Willys adotava o nome Jeep Universal para destacar a
versatilidade e uso civil de seus modelos Jeep. Certamente, o mais popular e
longevo dessa série é o Jeep Universal CJ-5, tendo surgido em 1955 e perdurado
até 1985. No Brasil permaneceu até 1983, pela Ford.
Apesar da certeza de um bom produto e da demanda de mercado,
provavelmente nem mesmo a empresa poderia prever o tamanho sucesso e
longevidade da linhagem de Jipes CJs.
Não é para menos, pois você tinha um veículo que podia ser usado no serviço da
fazenda, com a possibilidade de acoplar uma série de equipamentos e que ao
mesmo tempo podia ser utilizado para ir à vila mais próxima ou à missa nos
finais-de-semana.
Dos três produtores de Jeeps-Ford, Willys e Bantam durante a
guerra, apenas a Willys permaneceu construindo Jeeps. A Ford estava
interessada, mas quando seu próprio projeto de jipe foi rejeitado pelos
militares, forçando a produção da versão Willys, a chance de oferecer um jipe civil
praticamente acabou.
Alegava Ford, que o Jeep simplesmente
não era importante o suficiente a ponto
de se preocupar. O terceiro dos construtores originais, American Bantam, nunca
voltou ao mercado automobilístico após a guerra e acabou desaparecendo.
A Willys Overland oportunamente, soube aproveitar a fama do
Jeep na guerra para oferecê-lo ao mercado civil. Portanto, ela tinha um
excelente produto, de confiabilidade e robustez já comprovadas, que eram
características essenciais para o novo uso a que o veículo seria destinado, ou
seja, o uso agrícola e posteriormente, o uso como veículo de serviço também nos
espaços urbanos.
Para isso, a Willys, além de destacar a versatilidade do
Jeep no seu marketing, abusava do apelo sentimental do veículo herói de guerra,
com slogans do tipo “Nascido para a guerra, pronto para a paz”.
Quando o nome jeep se popularizou, costumava ser digitado em
letras minúsculas: jipe. A Willys percebeu a empatia e o valor econômico do
nome e o registrou como uma marca comercial da Willys-Overland, em merecidas
letras maiúsculas.
Após a guerra, o Jeep se tornaria fundamental para o
futuro da Willys-Overland. E lá eles sabiam disso. A empresa porém não poderia sobreviver baseada em um
modelo. As despesas gerais na fábrica exigiriam um nível de produção de pelo
menos 54.000 Jeep Universal por ano. Era um nível que a Willys poderia atingir em
alguns anos, como 1946, mas que poderia ficar aquém em outros anos.
Porém a ideia de produzir um modelo de Jipe para uso civil
remonta a 1941, com o protótipo X-12. A letra X designava um veículo de teste,
fabricado em novembro de 1941 e modificado em 1942.
A foto acima é do oficialmente reconhecido como o mais
antigo protótipo de jeep para uso civil, o MB42 "Auburn" de 1942. Pertence
a Tood Paisley e está em condições de rodagem.
Em abril de 1942 o Ministério da Agricultura norte-americano
patrocinou um teste em Auburn, Alabama, para ver se o jipe podia ser usado como
um trator para realizar várias tarefas ao redor da fazenda-laboratório, no
complexo do Farm Machinery Tillage. O Exército forneceu um Ford GPW e a Willys
Overland mandou um MB especialmente preparado, juntamente com seus 2 pilotos de
testes. Mais sobre eles você pode
encontrar em um post de agosto de 2010,
aqui no blog.
Mas o que pouca gente sabe é que Jeeps foram
vendidos a civis ainda em maio de 1943! As
fotos acima ilustram o que podemos chamar do primeiro lote de jipes vendidos
para civis. Eram viaturas militares do Exército americano adquiridas por um
comerciante de Chicago, EUA, chamado Berg. Também fizemos um post sobre isso em
junho de 2010.
No Brasil, a antiga importadora e concessionária Willys,
Gastal, do RJ foi a pioneira a trazer os CJ em 1947. Abaixo, interessante foto
mostra a chegada de um Jeep CJ2-A novinho em 1947. Chegavam dos EUA via marítima, parcialmente
desmontados em caixotes de madeira. A demanda porém, era muito maior que a
oferta e se você adquirisse um teria de esperar um tempo razoável.
Se em um país já desenvolvido na época, como os EUA , a
série CJ fez tanto sucesso, imagine em um país ainda emergente como o nosso, carente
de qualquer tipo de veículo, ainda mais daqueles capazes de trafegar sem
dificuldades em nossas então raras estradas pavimentadas ou até mesmo onde elas
sequer existiam. Além disso, era pequeno, ágil, versátil e diferente.
Essa demanda
crescente despertou obviamente o interesse de atuar diretamente nesses mercados
emergentes, e por isso devido primeiramente ao sucesso do Jeep, a Willys
Overland veio a estabelecer um escritório de sua divisão exportadora em 1950,
no Rio de Janeiro.
A partir daí, associação entre a Gastal com seus
subdistribuidores e a Willys levaram a
fundação da WOB, Willys Overland do Brasil em 26 de abril de 1952, que passou a
importar diretamente os modelos, agora conhecidos como CJ-3A . Mais tarde,
quando Henry Kaiser adquiriu o controle da Willys em 1953 e decidiu montar uma
fábrica no Brasil, o famoso “Barracão da Willys” na região de São Bernardo do
Campo, SP, o modelo CJ-3B conhecido aqui também pelo apelido cara-de-cavalo por
causa do capô alto, passou a ser montado aqui, com 30% de peças nacionais. Em
1955 foi apresentado o novo modelo CJ5 que passou por um acelerado processo de
nacionalização até 1960 e que foi mantido em produção até 1968 pela Willys
Overland do Brasil e de 1969 (quando denominava-se Ford-Willys) até março de
1983, pela Ford. No Brasil, ao todo, os modelos CJ montados ou produzidos aqui,
também conhecidos como Jeep Universal, compreenderam o CJ2A, CJ3A, CJ3B, CJ-5 e
CJ-6 (versão alongada) de 2 e 4 portas. Os modelos CJ-5 e CJ-6 tiveram ainda
versões com tração apenas em 2 rodas.
Não é exagero afirmar, que aqui, como em outros lugares de regiões
ainda pouco exploradas geograficamente e desenvolvidas economicamente, os modelos Jeep CJ foram protagonistas da história desses
lugares, contribuindo com o desenvolvimento sócio-econômico e que até hoje
marcam a memória dos saudosistas e despertam paixões e fãs.
Além disso, o conceito de 4x4 surgido com o Jeep popularizou-se ainda mais com os CJs e perdura ainda hoje a ponto do nome virar sinônimo para qualquer veículo 4x4 pequeno e ágil. Quando você guia um
Jeep de verdade, você não está guiando um veículo antigo qualquer, e sim um
pedaço da história, o que é bem diferente.
Acima, o primeiro. Abaixo, o último.