Embora o “cavalo de batalha” da guerra no Vietnã tenha sido
o helicóptero, especialmente os Bell UH-1 “Hueys”, que foram uma espécie de
símbolo daquele conflito, o jipe M151 MUTT foi o veículo militar utilitário 4x4
americano padrão da época. Ao vermos um MB logo lembramos da Segunda Guerra
Mundial, um M38 ou M38A1 nos lembra a Guerra da Coréia, e o MUTT logo nos vem à
tona a Guerra do Vietnã. Muitos M38A1 e M606A1 foram utilizados também, mas em
menor número naquele conflito.
O MUTT (Military Utility Tactical Truck) 151 foi pensado e
teve o desenvolvimento de seu projeto antes mesmo do lançamento do famoso M38A1
( que deu origem ao CJ-5 civil) em 1952. Porém somente em 1959 teve início sua
produção em massa, e em 1960 o contrato definitivo foi assinado com as Forças
Armadas Americanas.
O MUTT M151 foi projetado pela Ford Motor Co. ainda em 1951,
seguindo as orientações do OTAC , Ordem de Comando Automotivo do Exército
norte-americano, que tinha a intenção de substituir o M-38 (projetado às
pressas para substituir os MB antes da chegada dos novos M38A1) e os nem
lançados ainda M38A1, fato que torna a história oficial mal contada na verdade,
pois os M38A1 foram amplamente aceitos. O projeto também teve inspiração no DKW
MUNGA Alemão, um pequeno Jeep Militar com
motor 3 cilindros de 2 tempos que no Brasil era conhecido como DKW Candango. Na minha opinião a Willys saiu na frente com
um bom projeto e o lobby da poderosa Ford
funcionou ao tentar impor um novo projeto concorrente pois não queria
ver novamente a Willys assumir a dianteira na produção dos utilitário 4x4 para
as Forças Armadas. Mesmo sendo um excelente projeto, em teoria muito superior
ao da Willys, passaram-se 7 anos entre a concepção e a homologação do MUTT M151
como Veículo Utilitário Padrão, em 11 de julho de 1957. Já o M38A1, nessa
época, foi reclassificado então como “Padrão Limitado”.
De fato os MUTT eram superiores ao M38A1 e seus antecessores
em muitos aspectos, principalmente em aspectos como desempenho, espaço para
carga, maneabilidade, sistema de direção, além do peso menor e conforto
superior. O projeto também se apresentou muito atraente aos militares, fruto da
maior experiência da Ford e confiança
que desfrutava junto a eles.
O projeto se sustentava em 3 questões principais. A primeira
era que a carroceria monobloco podia ser construída com ferramentas menos
sofisticadas, possibilitando a produção em países do terceiro mundo onde os
custos deveriam ser levados em consideração.
A segunda questão era que o desenho da carroceria fornecia
uma robustez superior ao conjunto para operar em diversos ambientes hostis
encontrados na maioria dos países do terceiro mundo.
A terceira questão era decorrente das duas primeiras, sendo
que com custos menores de fabricação e manutenção aliados à robustez permitiam
aos países aliados de terceiro mundo aumentarem suas frotas militares, sendo
uma opção bastante rentável de viatura militar.
Vários veículos experimentais foram desenvolvidos e
avaliados, incluindo versões de chassi/carroceria separadas, versões em
alumínio, tipos de eixos. Em maio de 1952 saiu o primeiro protótipo, em junho
mais três unidades foram testadas por 48.000 km quando então sofreram alterações e
ajustes e designadas como XM151, sendo entregues seis protótipos já alterados
em junho de 1954 para rodarem mais de 185.000 km em testes nos
campos de prova nas mais variadas condições de tempo e terreno que só
terminaram no início de 1956. Nesses testes, em 1955 no Canadá, em Fort
Churchill, sob temperaturas abaixo de 45°C os protótipos se saíram tão bem quanto os
da Willys.
Em março do mesmo ano iniciaram-se os testes com os ajustes
necessários e apresentados 2 modelos com carroceria e chassi em alumínio e
outros dois em aço. Os protótipos de alumínio (XM151E2) eram cerca de 125 kg mais leves e pareciam
que iam resolver o problema de peso que vinha incomodando desde os tempos do
projeto do M38A1. Porém antes mesmo de completar os 12.000 km de testes
programados, somente com 4.880
km já apresentaram inúmeros problemas de rachaduras em
toda a carroceria e suas estruturas ocasionando o fim dos referidos testes em
13 de agosto de 1957, onde após todas as avaliações constatou-se que as
modificações e correções necessárias seriam muito dispendiosas e alterariam em
demasia o projeto do veículo.
Já o modelo em aço (XM151E1) se saiu muito bem , sendo 15%
mais leve que os M38A1 da Willys sem prejuízo no desempenho geral, passando
inclusive nos testes com armas usuárias e rodando quase 50.000 km antes de ser
aprovado o início de produção em massa.
A versão final aceita pela OTAC era uma unidade de
carroceria monobloco, suspensão independente nas 4 rodas, sistema elétrico 24
volts impermeável, tração em 2 ou 4 rodas com caixa de 4 velocidades a frente e
1 a ré. A
1ª e a Ré foram projetadas para se igualarem às relações de reduzida
encontradas nos M38A1 e seus antecessores incluindo os MB/GPW. O motor era um 4
cilindros 2.319 cc refrigerado à água
com 65 hp a 4.000 rpm e torque de 12,8 lb a 1.800 rpm. e movido a gasolina,
ajudava o MUTT a atingir uma velocidade máxima, em 4ª marcha, de 88 km/h (55 mph).
Por incrível que pareça, após o início da produção em massa
em fins de 1959, começo de 1960, os problemas começaram a aparecer.... (os
testes serviram para quê então eu me pergunto, ou o lobby da Ford funcionou novamente?)