Seguindo a história do Jeep militar no Brasil, abordaremos o que podemos chamar de segunda fase, onde unidades fabricadas no país passaram a ser amplamente utilizadas. No final da década de 1950 os militares brasileiros importaram algumas unidades do M38A1 e M38A1C (canhoneiro, visto na foto abaixo).
Ainda no final da década de 1950, em 1957, começa a ser
fabricado no Brasil o novo modelo CJ-5 (no nosso país era chamado apenas de
Jeep Willys Universal). Porém já haviam algumas unidades apresentadas e
importadas ainda em 1955. Com o índice de nacionalização de mais de 80% em
1959, o Jeep CJ-5 brasileiro, agora com motor BF-161 6 cilindros e carroceria
nacional, também passou a ser adotado pelos militares. No início, quase
idêntico ao modelo civil, já que até a capota normal permanecia, supriu a
demanda por um Jeep mais moderno, ainda inferior a um M38A1 americano, mas com
custos de reparação bem menores.
A carroceria especialmente feita para uso
militar, diferenciando-se da civil e a adoção de equipamentos militares padrão
ainda na fábrica ocorreram somente a partir de 1961, juntamente com o novo
design trapezoidal dos paralamas traseiros do CJ-5 brasileiro e com a produção
do modelo também militarizado “de fábrica” do Pick-up Jeep, que ficou conhecido
como F-85.
O Jeep passou a ter um modelo exclusivo para as Forças
Armadas, cujas principais diferenças encontravam-se na carroceria e na adoção
de equipamentos e acessórios para uso bélico, já que mecanicamente praticamente
não havia diferenças entre o de uso civil e o militarizado.Atendendo a especificações técnicas, o CJ-5 transformou-se,
ganhando farda e apetrechos que o tornariam ainda mais adequado a operações
bélicas em qualquer terreno e sob as mais diversas condições, como convém a uma
viatura militar. A carroceria foi modificada na parte chamada de “caixão”: não
adotava a tampa traseira removível e rebatível. No lugar havia uma chapa
soldada e reforçada para abrigar o suporte de estepe e camburão na parte
externa e suportes para pá e machado militares na parte interna. Por isso mesmo
o banco traseiro, quando utilizado(pois era facilmente removido), era do tipo
que dobrava e rebatia para dar acesso às ferramentas.
Já o Jeep “canhoneiro”, ¼ ton CSR (canhão sem recuo) de 106 mm tinha a parte
traseira aberta, sem tampa mesmo, para facilitar o municiamento do poderoso
canhão. Esse modelo veio para substituir os já raros M38A1C importados, e eram
ainda mais diferenciados visualmente, com a adoção de parabrisas repartido,
suportes para camburão, pá e machado nas laterais dos paralamas e estepe na lateral dianteira direita. No
painel havia um suporte para apoiar o canhão quando o mesmo estava “de
descanso”. Havia ainda diferenças na suspensão traseira, que era reforçada com
pequenas molas helicoidais, já que o maior peso e o tranco do disparo fazia com
que o Jeep desse um pulo.
Já nos modelos VTNE (Viatura de Transp Não Especializado), para abrigar a capota militar a carroceria ganhou também presilhas
nas laterais e traseira e dois suportes
traseiros para apoiar o cajado que sustentava a lona, quando a capota não era
utilizada. Este cajado em “V” quando armado, era dobrável, e apoiava-se em dois
suportes fixados do lado de fora dos paralamas traseiros. A capota aliás,
diferenciava-se substancialmente do modelo civil, era feita de material mais
reforçado e antichama, possuía 05 janelas , sendo as 04 laterais removíveis e
enroláveis, tornando-o um veículo semi-conversível. Para fechamento das portas,
foi soldado um suporte nas laterais, que também era utilizado para fixar as
cintas (straps) de segurança quando as portas da capota eram removidas. Serviam
também para fixar as pontas do cajado quando o mesmo estava recolhido.
Refletores (olhos-de-gato) foram fixados nas laterais traseiras de ambos os
lados e um na parte central do suporte de estepe.
E é justamente na parte posterior que é possível
visualizar-se as maiores diferenças, já que os modelos militarizados possuem
estepe na traseira, com suporte para o camburão (galão) de combustível ou água,
além de parachoques em meia-lua militares, com gancho “G” para engate de
carreta militar ou canhão antitanque e anilhas de fixação soldadas na base, que
assim como as dianteiras serviam para reboque ou fixação em aeronaves, pontes
flutuantes, embarcações e vagões ferroviários. Alguns modelos podiam ser
equipados ainda com guinchos mecânicos Ramsey ou os nacionais Biselli, ambos
com capacidade para até 3,5 toneladas.
Outros eram equipados com metralhadoras .30 ou
.50 fixadas sobre suportes na parte central do assoalho traseiro, e ainda havia
modelos de rádio-comunicação equipados com aparelhos de transmissão e recepção
sobre a parte interna dos paralamas traseiros, possuíam o suporte de antena
fixado na lateral traseira direita como padrão, percebido em todas as fotos de
época onde aparecem estes modelos. Os primeiros modelos, na década de 60 ainda
utilizavam as lanternas civis como padrão, embora muitas unidades faziam suas
adaptações. No final dos anos 60 , presume-se, até início da década de 80, saíam
de fábrica somente com lanternas militares na traseira. Também nessa época
adotou-se a tomada para reboque na traseira e mais um refletor posicionado logo
acima da mesma. Por volta de 1981 passou a ser equipado com o conjunto de
lanternas civis e militares. Na parte dianteira dos Jeep militarizados, a
adoção do farol de aproximação, sempre sobre o paralamas esquerdo, denunciava a
utilização militar. A adoção de anilhas sobre os parachoques também era um
diferencial. Alguns modelos ainda podiam ser equipados com sirenes ROTAM sobre
o paralama direito, especialmente as unidades PE (Polícia do Exército).
A foto acima documenta um esquadrão de reconhecimento em operação nos anos 60. Reparem que na foto, dividida, a parte à direita mostra o 5224 que vinha atrás do MB à esquerda, e comprova o uso de lanternas civis na traseira nessa época.
Internamente, os bancos dianteiros eram
individuais para motorista e passageiro, revestidos de napa
verde em tom esmeralda como padrão mas alguns poucos em lona verde oliva. O painel
apresentava os mesmos instrumentos do modelo CJ-5 normal, com exceção do botão
de luzes nos modelos que passaram a adotar as lanternas militares na traseira e
pequena tecla sob o painel para acionar o farol de aproximação e mais tarde as
luzes de Pare civil/militar. Nesse ponto, o painel só diferenciou-se mesmo dos
modelos civis a partir de 1980 quando adotou o sistema elétrico 24 volts.. Sempre
apresentava também a chave de ignição no painel, diferente de alguns modelos civis
que vieram com trava de direção. As plaquetas militares com instruções e
recomendações também diferenciavam este aspecto do Jeep militarizado.
O quadro
do parabrisas a partir de 1964 era sempre do modelo com vidro rebatível. Os
pneus adotados eram os 6.00 x 16 militares. Praticamente tudo era pintado na
cor verde-oliva e nos anos 80, verde-floresta. Chassis, eixos, rodas,
parachoques, carroceria, suportes. Só escapavam itens que não eram em metal e
volante, motor e seus agregados.
Acima, início dos anos 80. Abaixo, meados dos anos 60.
Abaixo, como eram transportados os Jeep em vagões ferroviários.