O Jeep, ao surgir no início da
Segunda Guerra Mundial, antes mesmo da entrada oficial dos Estados Unidos na
guerra, encantou os militares e o governo daquele país com suas qualidades que o tornariam famoso entre os soldados. Por
incrível que pareça, os primeiros a utilizarem o Jeep no front foram os
britânicos (na Europa e norte da África) e não os norte-americanos, devido ao
acordo de fornecimento de armas e equipamentos. Mas isso é outra história. O
fato é que algo semelhante aconteceu no Brasil, que ao declarar guerra ao Eixo
em 1942, passou a receber armamentos e suprimentos dos aliados, inclusive jeeps
americanos em grande quantidade, que rapidamente integraram-se à cena
brasileira. Depois, em 1944 ao ser enviada para o combate, a Força
Expedicionária Brasileira (FEB) dispôs na Itália de 655 jeeps que entraram em
combate em muitas missões. Contrariamente aos jeeps dos Estados Unidos e Canadá
(os únicos dois outros países do continente americano que mandaram forças para
efetivo combate na 2ª Guerra), muitos voltaram ao Brasil com o fim da guerra,
continuando em atividade nos quartéis do Exército em todo o país, alguns por
mais de 30 anos, quando foram desmobilizados, após bastante tempo de serviço, sendo
que vários deles ainda rodam na mão de civis e colecionadores.
Alunos na Escola de Motomecanização do Exército Brasileiro,
em 1943.
Abaixo, o presidente norte-americano na época, Franklin D.
Roosevelt (à frente) e o brasileiro, Getúlio Vargas (atrás), a bordo de um
Willys MB 1942, inspecionam a base aérea aliada em Natal, Rio Grande do Norte,
quando o presidente Roosevelt retornava da Conferência de Casablanca em 29 de
janeiro de 1943.
Fotos National Geographic Magazine
Já nas paradas de 7 de setembro de 1942, o Jeep, em suas
primeiras versões desfilava pelas ruas do Rio de Janeiro. Não temos dados
precisos da quantidade de Jeeps enviados ao Brasil neste período, talvez não
tenha passado de uma centena, e iriam juntar-se aos outros que retornariam da
Itália para aproveitamento.
Willys MB 1942, provavelmente um slatt-grille, já que não
apresenta o galão traseiro nem o farol de aproximação sobre o paralamas
dianteiro, que foram adotados a partir de julho de 1942. Esta foto foi tirada
durante a parada de 7 de setembro de 1942 e publicada na revista Esquadrilha,
da época.
A foto acima mostra o Desfile da Vitória em São Paulo, com
os soldados do 6º Regimento de Infantaria e Jeeps recém-chegados do front, em
1945.
Foto: Associação de ex-combatentes de SP)
A foto acima comprova o longo tempo de uso dos Jeep no
Exército Brasileiro. Este modelo da Segunda Guerra Mundial ainda em uso na
década de 1970, mais precisamente em 1975. Foto: 12º RCMec.
Após a Segunda Guerra Mundial, obviamente que todas as
viaturas trazidas do conflito e que puderam ser reutilizadas foram incorporadas
à frota das Forças Armadas, principalmente do Exército Brasileiro. No entanto,
o número era insuficiente, já que na nova doutrina militar nacional, inspirada
na norte-americana, baseada fortemente em mobilidade, viaturas do tipo jipe se
faziam necessárias. Ironicamente, por força do destino, foi de um ex-pracinha
da FEB encantado pelos feitos do veículo no front e com visão de negócio que
em 1946 o primeiro Jeep civil foi importado para o Brasil. Esse ex-pracinha era
filho de Oswaldo Aranha, três vezes Ministro do primeiro governo de Getúlio
Vargas. O pai, que havia adquirido uma empresa de kits de gasogênio para
automóveis e arquivos de aço, chamada Gastal, junto com um colega de seu outro
filho, começou a montar aqui os Jeep CJ2A trazidos de Toledo, Ohio. Rapidamente
as Forças Armadas Brasileiras se interessaram pelo modelo, até porque não
tinham muitas alternativas, e começaram a adquirir esses modelos e
militarizá-los, ficando muito parecidos com os M38 (MC), modelos militares
fabricados entre 1951 e 1952.
Acima, modelos CJ2A militarizados em paradas de 7 de
setembro de São Paulo. A primeira tirada por volta de 1947, a segunda mostra o
mesmo Jeep e outro idêntico em 1949 ou 1950, já equipados com faróis de longo
alcance. Atrás, encoberto pelo Jeep em primeiro plano, nota-se um dos raros
Fire Jeep CJ2A adquiridos.
Esta foto mostra um CJ2A militarizado em meio a MBs, à
espera de reparos em Lorena, SP, em 1956, na Cia de Manutenção localizada
naquela cidade.
Acima, um CJ3A militarizado.
Já com a implantação da fábrica da Willys em São Bernardo do Campo em 1954 e início da
montagem dos CJ3B (cara-de-cavalo) com os motores Hurricane 4 cilindros, estes
também passaram a ser militarizados pelo Exército, portanto, não confundir-se
com os M606, que vieram importados, somente no período 1964 a 1968.
CJ3B militarizados, em manobras no Espírito Santo, anos 60,
pertencentes ao 1º Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado. Abaixo um CJ3B,
provavelmente um repotenciado pela Bernardini.