Seguindo a saga dos utilitários Willys, um modelo que certamente marcou época nos quartéis do Exército Brasileiro foram as camionetas Willys militarizadas.
Modelo de base da Willys para a versão militar da pick-up.
Tudo começou no início da década de 1960, quando a Willys Overland do Brasil (WOB) já estava consolidada como a principal montadora de automóveis brasileira. Além disso, gozava da confiança dos militares ao fornecer aos mesmos, principalmente ao Exército, os Jeeps 1/4 Ton CJ-5. Ao lançar a Rural reestilizada em 1960 e posteriormente a Pick-up Willys, despertou-se um especial interesse por esta última por parte do EB em adquirí-las para substituírem as antigas Dodge WC recebidas dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial e cujas peças de reposição já estavam rareando. Além do mais, a nova Pick-up da Willys podia desempenhar muitas funções e ainda contribuir para a nacionalização da frota.
Testes começaram a ser realizados pela fábrica em conjunto com o Exército e após as modificações necessárias à militarização do modelo, o mesmo entrou em operação em fins de 1961. O novo veículo foi denominado Camioneta Militar Jeep Willys 3/4 ton 4x4. Um fato curioso é que esse modelo foi o primeiro veículo militar brasileiro exportado, quando as primeiras 150 unidades foram entregues ao governo Português em 1962, para equipar unidades de paraquedistas e usados em missões nas colônias portuguesas da época, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Timor. Na ocasião, o chefe do Estado-Maior português, Gen. Luis Maria da Câmara Pina, afirmou em 11 de novembro de 1961:
" Os jeepões militares brasileiros, que têm grande interesse sob o ponto de vista militar e econômico e são comparáveis aos Dodges que equipavam as unidades SHAPE, está a ser objeto de estudo por par de nossos serviços técnicos. Será uma viatura a considerar nas futuras aquisições do Exército".
A pick-up da Willys, derivada da sedan Rural, teve várias funções. Algumas unidades foram equipadas com suporte de metralhadora 12,7 e 7,62mm, canhão 0,50mm sem recuo e outros modelos foram usados para transporte e disparo de foguetes, sendo estes denominados de M-106.
O Exército Brasileiro também utilizou outras versões derivadas da pick-up civil, como cabine dupla, ambulância e furgão, mas isso é assunto para outro post. A camioneta militar era equipada com o motor Willys BF-161 6 cilindros a gasolina e 2.600cc, algumas unidades foram equipadas com o motor 3.000 cc a partir de 1967 e a partir de 1975 vinha equipada com o motor Ford OHC 4 cilndros 2.300 cc. A caixa de câmbio era de 3 marchas, com a 1ª seca até 1965. Em 1964, algumas unidades chegaram a ser equipadas com o motor diesel Perkins 4 cilindros, mas o mesmo não obteve êxito pois era inadequado ao câmbio original, que por seu torque elevado quebrava demais. O painel das camionetas militares eram diferentes, semelhantes ao Jeep, o teto de aço foi removido, foi instalado o quadro de parabrisas semelhante ao Jeep militar, novas portas, bancos, alavanca de marchas e tração no assoalho.
Painel F-85 1973
A denominação da pick-up militar Willys foi alterada em 1969 quando a Ford do Brasil , que já havia adquirido a WOB em 1967, adotou a marca Ford para todos os seus produtos (antes era Ford-Willys). A nova nomenclatura do modelo passou a ser Camioneta Militar 3/4 ton 4x4 Ford F-85. Apesar das denominações, o modelo recebeu um engraçado apelido, pelo qual muitos só conhecem o veículo por ele: "Cachorro Louco". Ninguém ao certo sabe a origem deste apelido, mas existe a versão de que ao entrar pela primeira vez em um quartel paulista, um Sargento, surpreso, teria dito " parece um cachorro louco", talvez pela sua silhueta baixa e reta quando o quadro do parabrisas está abaixado. Algumas unidades ainda estão na ativa no Exército. Outro nome popular para o modelo era Jipão Militar 3/4 ton.
Este modelo militarizado da Willys e posteriormente Ford, foi de significativa importância para o desenvolvimento da moto-mecanização militar brasileira e serve de exemplo para os dias atuais, na tentativa de ajudar a diminuir-mos a dependência externa na área de veículos militares. Exemplo inclusive seguido, com méritos, pelas extintas Engesa e Gurgel, e agora pela Agrale.
Detalhe interno da porta
Principais modificações introduzidas:
Chassi e parachoques reforçados, com e sem guincho mecãnico marca Ramsey (opcional), ganchos dianteiros, grade de proteção dos faróis, farol de aproximação instalado sobre o paralamas dianteiro esquerdo, remoção das portas, teto e parabrisas originais, pneus 750x16, chave militar de iluminação de 3 estágios, parachoques militares tipo "meia lua" na traseira, duas lanternas militares traseiras, duas anilhas traseiras, gancho G militar para reboque, tomada elétrica para reboque militar, seis refletores na caçamba, capota militar de lona, bancos de madeira na caçamba na versão de transporte, bancos dianteiros individuais revestidos em lona, pá e machado militar fixados atrás dos bancos na cabine, aros de roda 2 polegadas mais largos.
Ficha técina:
Motor: Willys BF-161 6 cilindros em F, gasolina, 2.638cc (161 pol.cub.)
Taxa de compressão: 7,6:1
Potência: 90 hp a 4.000 rpm.
Torque máximo: 135 lbps (18,67kgmf) a 2.000 rpm
Distância entre-eixos: 299,70 cm
Distância mínima do solo: diant. 22 cm / 22,5 cm atrás
Comprimento total: 188,47 cm
Bitola: diant. 144,78 cm/ traseira 154,94
Altura: máxima 206 cm/ mínima 140 cm
Capacidade de carga: 3/4 ton QT + 1 reboque 1/4 ton
Reservatório de gasolina: 66,2 litros
Sistema de lubrificação: 6 qts galão (5,676 litros)
Sistema de arrefecimento: 11 qts galão (10,410 litros)
Peso em ordem de marcha com água, óleo e combustível: 1780 kg
Peso em ordem de embarque sem água, óleo e combustível: 1675 kg
Peso carregado: aproximadamente 2.505 kg.
Pneus: 7.50 x 16 Pressão:45 libras
Sistema elétrico 12 V Bateria 54 ampéres
Motor opcional Willys 3.000cc:
BF-161 3.000cc 6 cilindros em F
Diâmetro x curso: 101,6 mm x 79,37mm
Taxa de compressão: 8,0:1
Potência máxima líquida: 132 cv a 4.400 rpm
Combustível: gasolina
Willys 3.000 cc (opcional)
Fonte: arquivo pessoal e UFJF/Defesa